domingo, 5 de setembro de 2010

TECENDO O DESTINO



As fiandeiras divinas nos mostram nossos limites e possibilidades de tecer nosso próprio destino.

TECENDO A VIDA
Glória Horta

O ato de tecer, em regiões distantes entre si e tempos distintos, sempre nos remete ao movimento ininterrupto da vida. De maneira sumaríssima, diríamos que o quadrado representado pelas quatro travessas do tear, as duas horizontais (inferior e superior) e as duas laterais (esquerda e direita) formam um quadrado: a limitação. O limite da vida humana, portanto.

O conjunto dos fios verticais (urdidura), e seus atributos (cor, comprimento, espessura, eqüidistância), uma vez determinados, não se pode mais mudar. Urdir é preparar o destino. Há circunstâncias e decisões que nos marcam para sempre. Acontecimentos, contextos, decisões, atos e fatos, palavras, perdas, situações à quais não poderemos jamais retornar para modificar.

Impossível remontá-la, a urdidura, sem morrer e renascer. Este é o primeiro movimento em relação ao desenho da trama de nossa existência.

Uma vez determinadas as características básicas do tecido, somos livres para fazermos, dentro daquele comprimento, daquela largura, e das especificidades dos fios que se alternarão, a teia de nossa vida. Tramar é viver. O movimento das navetes da esquerda para a direita e da direita para a esquerda é a construção da rotina que compõe a nossa tarjetória.

A urdidura firme, composta de fios belos e de belas cores, não nos garante o bom resultado. Como trançaremos os movimentos cotidianos é o que vai dar beleza ao tecido final.

No rolo da frente, sobre o colo do tecelão, fica enrolado o que já foi tecido, o passado simbólico. No rolo de trás (ou de cima), o urdume por tramar, o futuro, o que ainda não foi feito, o que pode ser mudado.

Entre os dois rolos, entre o céu e a terra, e limitados pelas travessas verticais da finitude humana, criamos diariamente a tela, a teia, onde fomos involuntariamente enredados.

Que a tecelagem participe de nossa reflexão sobre o mistério de viver.



FONTE: http://ofiosimbolico.blogspot.com/ -
http://www.youtube.com/watch?v=C4Op1CmTeCA&feature=related


Aracne foi uma mortal que tecia e bordava muito bem. Tão bem que as ninfas visitavam-na para admirá-la bordando e tecendo. As pessoas diziam que Aracne era tão boa tecelã que ela tinha como mestra a Deusa Minerva, mas Aracne negava dizendo que aprendeu sozinha.

Um dia, quando estava discutindo esse assunto, Aracne falou para as ninfas que desafiaria Minerva para mostrar que era melhor tecelã que a Deusa.

Minerva ouviu o comentário de Aracne e se transformou em velha, foi até a casa de Aracne dizendo a ela para se redimir, pois os mortais não deveriam desafiar os Deuses. Mas Aracne não se redimiu. Então Minerva se apresentou e aceitou o desafio.

Ao se apresentar as ninfas e mortais que estavam lá louvaram Minerva, menos Aracne.

Na disputa, Minerva teceu a cena de sua batalha com Netuno e mais doze divindades celestiais. No centro estava estampado o desapontamento dos deuses com os mortais presunçosos que desafiavam os Deuses. Era uma advertência para que Aracne desistisse antes que fosse tarde demais.

Aracne fez um bordado com cenas de enganos e erros dos Deuses. Minerva chegou a admirar a tela de Aracne, mas se sentiu insultada com o resultado.

Minerva destruiu a tela de Aracne e tocou em sua testa fazendo com que sentisse tanta culpa e vergonha que, sem suportar tais sentimento, se enforcou.

Minerva, sentindo pena ao ver Aracne pendurada na corda em que foi enforcada, a ressuscitou. Mas, para que não esquecesse da lição, fez com que ela e seus descendentes permanecessem pendurados para sempre, transformando-a em uma aranha.

Assim surgiu a aranha… E é por isso que as aranhas tecem tão perfeitamente suas teias.


Um comentário:

  1. Que lindo esse trecho postado sobre as aranhas, quando estava lendo viagei no tempo.
    Marilene.

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