terça-feira, 28 de setembro de 2010

RADAR - sombras

O AMOR E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO
Ercilia Simone Dalvio Magaldi*

Pouco se fala da necessidade do amor no processo de individuação e, além dele, no processo de espiritualização. Não o amor exigente, patológico, carente, intenso e tantas outras qualificações. Amor é um substantivo que não admite adjetivos porque se é amor é sempre incondicional. Esse é o verdadeiro aprendizado que devemos exercitar no processo de individuação e espiritualização.

O confronto com a sombra não é apenas um exercício de extrema coragem, mas, sobretudo, de muito amor. Quando nos despimos da nossa persona nem sempre encontramos um ego que nos agrade, assim é preciso acolhê-lo amorosamente, ele é o nosso ponto de partida para o ser. Todo o processo de individuação principia no ego, permanece no ego e tem como finalidade a rendição ao si-mesmo pelo ego.

Quando aceitamos este nosso centro da consciência temos condições de confrontar nossa sombra, e aí nos apaixonamos pelo Numinoso que ela evoca e nos assombramos com os umbrais tenebrosos que também emergem. Percebemos que nossas críticas e ódios são projeções de nosso interior e aí é necessário o exercício da amorosidade, o reconhecimento que todos somos luz e sombra e que é preciso amar, reconhecer, integrar o que é possível e manter sob vigilância o que a ética nos restringe.

É muito doloroso reconhecer que é fácil rezar pela Isabella (menina de 6 anos morta ao ser asfixiada e jogada pela janela) e todas crianças abusadas, vítimas de profundos complexos, mas que é extremamente difícil orar pelos agressores que são tomados pelos complexos. As vítimas não precisam de perdão, são os agressores que precisam deste ato de amor. O perdão não se aplica a não ser aos pecadores.

Assim nascem nossos traumas e nossas dores, na medida em que não exercemos o amor incondicional. Não devemos amar os erros cometidos, as sombras destrutivas, satânicas, mas o ser que as possui junto com seu lado luz, que recusamos em ver nos momentos de horror. Assim ocorre com nossa sombra, não devemos amar aqueles aspectos que não pertencem a nossa ética, mas amarmo-nos apesar deles, reconhecendo nossa condição humana. Caminhar em direção ao outro com amor incondicional é um exercício de felicidade que principia em nós mesmos.

O terapeuta encontra em seu consultório tanto luz quanto sombra, e muitas vezes a sombra do paciente é, para ele, um exercício de coragem e de extremo amor. Porque ele precisa reconhecer a totalidade do ser que engloba, também, aquela sombra. Não há sombra sem luz, se insistimos tanto em apontar as mazelas alheias não teremos estrutura de reconhecer as nossas próprias e, sobretudo, as dos pacientes, e quando o fizermos não teremos o acolhimento necessário para a transformação.

Portanto o amor é condição essencial ao processo de autoconhecimento e realização de plenitude, é a chave para a espiritualização, para o resgate daquilo que perdemos no processo de desenvolvimento biológico e social, razão de nossas neuroses e afastamento do Sagrado. Não há indivíduo amoroso distante do Numinoso.

*Ercilia Simone Dalvio Magaldi(simonemagaldi@gmail.com.br), pedagoga e filósofa, mestre e doutora em ciências da religião, psicoterapeuta especialista em psicologia junguiana e professora dos cursos de pós-graduação da FACIS
 
fonte: http://www.ijep.com.br/index.php?sec=artigos&id=28&ref=o-amor-e-o-processo-de-individuação#conteudo

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