domingo, 5 de setembro de 2010

TECENDO ARTE


Os preceitos básicos da tecelagem mantêm-se os mesmos desde os tempos pré-históricos até os nossos dias. Entretanto, para que uma técnica sobreviva, é necessário que circule.

Tudo que se transmite repetidamente é tradição.

Desde que o homem subsitituiu peles de animais por trançados, a tecelagem nos acompanha em todos os cantos do mundo.

No Brasil, os escravizados trouxeram seus teares de dois pedais escondidos entre a parca bagagem. Em certas regiões de Minas Gerais, os europeus introduziram a técnica de quatro pedais a seu modo: ensinando a repetir sem criar, por meio de "receitas".

Os índios produziam complexos padrões apenas repetindo os mais velhos. A base da permanência da tecelagem no Brasil está calcada na oralidade e, consequentemente, na observação direta e na memória.

A repetição de padrões garante a unidade do grupo e o pertencimento do indivíduo. Importante é repetir exatamente igual aos antepassados, depositários do conhecimento e responsáveis por sua permanência.

A autoria e a inovação, entretanto, objetivam distinguir um indivíduo em relação aos demais, singularizando-os. O "novo" é uma obsessão em nossa sociedade.

A partir destas premissas, muito temos a refletir sobre o segredo e a visibilidade. Quando ensinar? Quando manter em segredo? Quem merece saber? De quem devemos esconder?

Separar o que merece permanecer do que não merece é uma instância de consagração bastante visível na seleção de conteúdos programáticos de instituições de ensino, na seleção de conteúdos da mídia, na seleção de obras que "merecem" ocupar espaço em museus.

A Tecelagem Manual, a cestaria, as artes praticadas pelo povo, enfim, tudo que não é enquadrado pelo olhar eurocêntrico da História da Arte, tal como nos é apresentada à primeira vista, são práticas abarcadas pela Antropologia, pela Cultura Popular, pelo "folclore".

As distinções entre os termos artesanato e arte são questões debatidas exaustivamente nos meios acadêmicos.

A Tecelagem Manual também é vista como "terapia", assim como o canto, a dança, o riso, o beijo, enfim, tudo que os rituais que perdemos levaram consigo.

Neste momento, diversos grupos "inventam" novos rituais de casamento, de batismo, de velórios, de passagens.

Tecer trazendo no coração todas estas perguntas é muito mais que produzir objetos de uso como tapetes e tecidos.
 
Postado por Glória Horta
FONTE: http://ofiosimbolico.blogspot.com/

2 comentários:

  1. nice querida, que alegria estar juntinho de você novamente, que espaço divino..um show a parte...
    amei ++++
    e que bela postagem!!
    lindo aprendisado....todas as anteriores perfeitas.
    amo você doce amiga..
    otimo feriado com carinho e bjos..

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  2. Ritinha, q bom amiga q vc gostou...
    Tbém estava com saudades de vc, vamos agora nos encontrar mais vezes e nada de se perder novamente(rs).
    bjus no seu coração

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