sexta-feira, 26 de agosto de 2011

ENTRE NÓS com Maria Emília

EX-AMORES PARA SEMPRE

Acredito nos relacionamentos, no amor, nos afetos. Porém, algumas relações não dão certo, porque tem amante envolvido, porque as pessoas descobrem que não são mais amadas, porque as semelhanças ficam cada vez mais escassas e as diferenças gritam profundamente, porque o amor acaba e o desamor vai se instalando e judiando, corroendo até não poder mais ser sustentado, aceito ou simplesmente porque relacionamentos acabam, rompem-se.

Aceitar que relacionamentos afetivos acabam, eis um desafio de todos nós.

Via de regra queremos explicações, queremos os porquês, o que fiz de errado, mas e se eu tivesse feito tal coisa ou tal escolha, o que deixei de fazer, muitas vezes não há razão ou razões, relações acabam: umas bem e outras nem tanto.

No Japão, depois do terremoto, os japoneses estão separando de uma forma diferente, realizam com o organizador de separação, um ritual que a mim me agradou muito, homem e mulher se encontram com amigos e familiares e juntos seguram um martelo destruindo a aliança, colocando-a na boca do sapo (símbolo da mudança, de nova fase). O ritual acaba quando o marido joga o buquê aos convidados. A explicação é simples: acreditam e desejam que as coisas acabem bem, de forma agradável.

Será que nos falta um ritual de separação? Quem sabe a gente copia a ideia e rompe relacionamentos através de um ritual, assim como fizemos no casamento.

Quando as relações não acabam tão bem e nem de forma agradável, muitas e inevitáveis vezes ficamos presos ao outro de forma doentia, já não é mais o amor que fala, mas em seu lugar assume o ódio, a raiva, o desejo de que o outro seja eliminado, que suma e até por vezes e por que não, que morra com muito sofrimento, não de forma imaginária, mas de forma real e de preferência em nossa frente para podermos acompanhar sua dor e sofrimento.

Somos seres de relacionamentos, de afeto, então há uma gama de muitos sentimentos para sentir diante das separações. Se pensarmos bem, ódio é um deles, pelo menos um tempo, mas não a vida inteira. Lembrei-me de uma paciente que fora traída pelo marido, não bastasse estava grávida e a amante também, seus filhos nascem com diferença de apenas meses. Sua dor e revolta fora tão grande que sua ferida de ódio se transformou num câncer no útero doído e difícil de lidar, o que a levou em tenra idade ao caixão. O psiquiatra e antropólogo Adalberto Barreto em suas sábias palavras diz que, quando a boca não fala, um órgão paga e, quando a boca fala, um órgão se cura.

Voltemos aos nós das relações: quando o ódio permanece como vínculo, a tragédia também se instala, porque azeda as coisas todas ao redor, relação com filhos, que serão eternos vínculos de sangue, devem continuar apesar do rompimento, relação com futuros parceiros que poderão ser bloqueadas e nem existir, enfim, a vida para num reviver contínuo da dor, da perda, do ressentimento.

Cuide bem do seu amor, seja quem for, cantada em versos por Herbert Viana, me faz pensar no por que temos tanta dificuldade de cuidar de nossos amores?

Em quem você ainda anda preso? Já pensou em abrir mão e deixar-se ir, numa libertação de si e do outro, permitindo-se abrir espaços para sentir que a liberdade e a energia possam fluir novamente dando espaço para novas e infinitas possibilidades do viver a vida e quem sabe encontrando outros amores.

[1] MARIA EMÍLIA - Psicóloga, Terapeuta Comunitária, Professora Universitária e Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Aluna especial do Programa de Pós-Graduação do Doutorado em Educação pela Universidade de Brasília (UNB), Email: emilia.bottini@gmail.com.

Um comentário:

  1. Nossa! Que linda leitura, é isso mesmo, precisamos nos libertar,sem ódio e ressentimento.O mais importante é que estamos vivos e ainda temos tempo para sermos felizes, enquanto ha vida a sempre esperança!bjs

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