sábado, 10 de março de 2012

ENTRE NÓS com MARIA EMÍLIA BOTTINI



PARECE PIADA, MAS NÃO É.

Muitas histórias merecem o registro de tão fabulosas que são.

Um dia desses, encontrei um amigo pelos caminhos da vida e este me conta sobre uma conversa com sua colega de trabalho. Estavam entusiasticamente conversando num intervalo de uma reunião quando esta lhe conta que seu irmãozinho de doze anos fora atacado por um rottweiler. Sabemos que esse cachorro causa estragos quando enfurecido e enlouquecido, parece cão do diabo, alguns dizem, talvez até seja.
Meu amigo ficou muito chocado com a notícia e bastante preocupado perguntou se o irmãozinho dela estava bem, se estava vivo, se estava muito ferido e com muitas fraturas, se precisou de internação e de quantos dias, já estava quase indo ao hospital para ver o irmãozinho da colega.
Porém, a colega, vendo sua preocupação, se apressou em dizer que seu irmãozinho na verdade era seu cachorro que fora atingido pelo rottweiler, mas que ela o chamava de irmãozinho.
Não posso imaginar a cara do meu amigo, mas, ao me contar, era de pura indignação, pois achava se tratar de um irmão, aqueles de duas pernas, de carne e de osso, um humano que herdamos de família.
Se puder, ria e muito do meu amigo, de sua colega e dos cachorros, mas, se preferir, poderá chorar também, o que me parece mais adequado para essa história.
Tem alguma coisa errada conosco, com nossa humanidade?
Quando foi que passamos a considerar os animais membros de nossas famílias?
Estamos realmente tão carentes a ponto de chamar os cachorros de irmãozinhos, de filhinhos? Sabemos que alguns irmãos são cachorros, mas cachorros irmãos são difíceis de engolir. Bem, temos que discutir e muito sobre o fato, se pudermos.
Hoje se inverteu tanto, mas tanto a lógica das coisas que, se falarmos mal de animais, sobretudo de cachorros, corremos o risco de sermos politicamente incorretos, taxados de que não gostamos de animais, de não termos nem sentimentos. Pois eu estou me permitindo ser politicamente incorreta; na minha idade, já posso. Não sou candidata a nada.
Que necessidade brutal de nos sentir amados, desejados e queridos, mas por animais?
Sim, estamos substituindo nossas relações humanas por relações com e por animais, e estamos encontrando vantagens inúmeras, porque cachorros não falam, até onde eu sei, não reclamam, não xingam, não tem problemas de ordem sentimental ou emocional, não pedem divórcio e nem pensão alimentícia, não criam caso, não fazem fofocas, não choram e sequer sabem de sua finitude.
Uau! São muitas as vantagens, mas ainda prefiro os humanos que sentem, choram e amam e que por fugazes momentos nos acompanham e nos dão alento ao caminho por vezes sofrível, mas está cada vez mais difícil encontrá-los.

* Psicóloga, Terapeuta Comunitária, Professora Universitária, Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Assina a coluna Cine Emoção do Conselho Regional de Psicologia 1º região - DF.
CONTATO: Maria Emília Bottini – emilia.bottini@gmail.com

Um comentário:

  1. Discordo, certamente tem anilmalzinhos que são muito melhores que humanos, com certeza, eles são fieis (não traem) e cuidam e protegem seus filhotes. Muito humano por ai que se diz HUMANO, não tem um pingo de consideração pelos filhos que colocou no mundo, e ainda, incentivado a isto sabe-se por qual motivo....

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