segunda-feira, 13 de junho de 2011

ENTRE NÓS com Maria Emília

Dezesseis dias para pensar uma vida
*Maria Emilia Bottini

Viagens são sempre algo que gosto de fazer, sempre conhecemos pessoas, gostos, costumes, cheiros e sabores novos; enfim, a mim sempre trazem coisas boas que me deixam feliz.

Viajei para o norte da Itália em uma excursão com meu amor querido e minhas duas mães, uma biológica e a outra do coração, viagem de 16 dias para belos lugares, que já estão registrados através de fotos e livros: são memória do vivido. Quanta cultura, quantas diferenças.

Minha nona (avó) dizia: “Todo os países são mundo”, ou seja, com a dita globalização faz com que nada pareça ser único e particular, tudo pertence a todos, vemos marcas de carros, de produtos iguais ao que temos por aqui. Enfim, é o mundo do consumo para todos ou para o que dele podem participar e ser inseridos.

Vi também que os problemas se assemelham, o lixo é intenso e não há onde colocar os carros; por mais que diminuam de tamanho, ocupam um lugar, um espaço.

Neste passeio, como uma boa turista, caminhamos muito, muito e atribuía a dor em uma perna ao cansaço, mas não foi bem assim. Acionei a médica do seguro, que me repassou medicação, porém não melhorei, procurei outro médico que suspeitou de trombose e me encaminhou com urgência para o hospital. Resumo da ópera: tive que fazer cirurgia e ficar dezesseis dias internada em uma clínica em Bolzano (Itália), onde se fala o alemão como primeira língua e o italiano como segunda, minha família e marido retornaram ao Brasil, fui atingida pela fasceíte necrotizante, uma doença bacteriana potencialmente fatal. Mais um dia seria amputada minha perna ou estaria morta fazendo parte das estatísticas mundiais.

Dezesseis dias para pensar uma vida porque é o que realmente aconteceu comigo: sem livros em português, sem familiares ou amigos da vida, sem o que fazer. Sobraram apenas a gente e nossos pensamentos, que me levaram a uma reflexão do que realmente vale a pena neste curto espaço de tempo que aqui estamos.

Fiz fisioterapia, reaprendi a andar, enfermeiros me ajudaram com coisas elementares como descer da cama, tomar banho, ir ao banheiro...

Poderia ter voltado sem minha perna, pois a bactéria, segundo o doutor, era na “bestia cativa” (bicho bravo), ou mesmo ter morrido como acontece com tantas pessoas acometidas por ela: é 90% mortal.

Acho que no sorteio entre a vida e a morte, a vida ganhou e tive minha segunda chance.

Segunda chance para continuar sendo o que sou e tendo consciência da finitude humana.

Pensei na importância das pessoas que amo e me são caras, era difícil imaginar não poder mais revê-las.

Pensei em quanto tempo passamos nos dedicando a trabalhos que nos maltratam e nos levam a alma embora e que nos deixam azedos e infelizes.

Quantas vezes nossas frustrações nos levam a compras exageradas, casas megalomaníacas, carros luxuosos, roupas caras e que não levaremos absolutamente nada disto quando partiremos.

Não espere uma bactéria atingir você para pensar uma vida.

* [1] Psicóloga e Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Aluna especial do Programa de Pós-Graduação do Doutorado em Educação pela Universidade de Brasília (UNB), e-mail: emilia.bottini@gmail.com

3 comentários:

  1. OIE!
    Estava precisando disto, apesar de saber ja desta historia. È isto que temos que fazer em todas as situações, "Não deixar que as becteria do mundo nos tirem o sossego e a vida" Elas estao ai, espalhadas por todos os cantos, lares, trabalhos, escolas, enfim pelo mundo afora.... se é que me entendem... Querida amiga, valeu relembrar esta historia,,, bjus
    Paula Fortunato- Poa- RS

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  2. Parece que Deus diz "Pare" e aí põe a gente prá pensar.Bjks Beth

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  3. Toda vez que penso na sua história, Emi, seja ouvindo vc contar ou como agora, lendo, me lembro de como somos pó, somos seres tão frágeis... Me faz recolocar no lugar adequado os valores e prioridades da vida...

    Ficou excelente o texto! Muy bien!! =D

    Lizzie

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